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"Pensamentos fáceis são fáceis areias que os fortes ventos levam e trazem. Fazei-os voar a altos fins e eles serão inatingíveis.” (VELOSO, Arthur)

O Princípio da Polaridade

 

Dizem os preceitos herméticos: “Tudo é duplo; tudo tem dois pólos; tudo tem seu par de opostos; o semelhante e o dessemelhante são uma só coisa; os opostos são idênticos em natureza, mas diferentes em grau; os extremos se tocam; todas as verdades são meias-verdades; todos os paradoxos podem ser reconciliados”.

           

O Quarto Princípio de Hermes diz respeito à polaridade das coisas creadas. Em algumas palestras mostramos esse aspecto da natureza, especialmente no tema “O Enigma do Mal e do Bem”.   

           

O Princípio da Polaridade é que torna a criação conscientizável, a mente encarnada é analógica, ela só detecta algo pela lei da polaridade.

           

Vejamos um exemplo concreto:   suponhamos  um  lugar em que somente houvesse a temperatura de 20º C, em que todas as coisas, e o meio ambiente como um todo, tivessem exatamente essa temperatura. Com certeza ali nenhuma pessoa se aperceberia da existência de temperatura e, conseqüentemente, nem mesmo haveria um termo para indicá-la.

 

Seria impossível alguém se fazer entender ao tentar definir temperatura ( apenas por dedução física isso seria possível). As pessoas não teriam a menor idéia do que seria aquilo. Mesmo vivendo num ambiente com um nível de temperatura instrumentalmente registrável as pessoas não entenderiam o seu significado, mesmo ela estando presente em todo o meio ambiente. Somente alguém que viesse de fora poderia entender que ali existia a temperatura de 20º C e, evidentemente, poderia fazer uso de um termômetro para determiná-la. Por outro lado, as pessoas daquele lugar não compreenderiam o sentido de um termômetro e, menos ainda, o que aquela pessoa estaria querendo se referir ao dizer: A temperatura ambiente é de 20º C. Porém, no momento em que surgisse alguma variação daquele índice de calor, imediatamente as pessoas entenderiam; em outras palavras, no momento em que ocorresse uma polarização, então a temperatura passaria a ser passível de conscientização por parte das pessoas que logo entenderiam qual a utilidade do termômetro.[1]

           

Algo na fase UM teoricamente pode existir, mas não pode ser “intelectualizado” objetivamente. A consciência ( dar-se conta de) se faz presente quando o UM se polariza, então já surge o DOIS e concomitantemente o TRÊS representando a idéia daquela manifestação.

           

Se todas as coisas estivessem iluminadas por uma mesma intensidade de luz certamente não se poderia perceber a existência da luz, e muito menos a possibilidade da existência da treva. Mas, no momento em que houvesse a polarização, ou seja, a partir do momento em que a luz sofresse gradações de intensidade então ela seria conscientizável. Evidentemente, antes  a luz seria registrada sensorialmente, ela estaria presente em toda sua plenitude, mas as pessoas não se dariam conta disso, as pessoas não a registrariam. Somente quando alguma condição oposta se fizesse presente é que a conscientização ocorreria.

           

Falamos em outras palestras sobre vibração, mas não dissemos que a vibração por si só não é conscientizável, nem também o ritmo. Só quando ocorre polarização a conscientização se apresenta.

           

Naquele suposto ambiente que citamos como exemplo, com temperatura de 20º C, haveria vibração, mas aquela temperatura seria o resultado de miríades de coisas cada uma com sua vibração e ritmo próprios, mas sem a presença da polarização, sendo a temperatura inconscientizável.

           

Como vemos, a polarização é uma condição  “sine qua non” para que possa ocorrer conscientização da criação.

           

No universo tudo aquilo que é conscientizável objetivamente tem que estar polarizado, conseqüentemente, tem que ter o seu oposto. Por outro lado, como mostramos no tema o ENIGMA DO MAL E DO BEM  tudo existe pelo UM, mas só é conscientizável pelo DOIS.

 

Pequeno ( 1 )  e grande  ( 2 ) =  idéia de tamanho  ( 3 )

Feio  (1 )  e bonito   ( 2 )  =  idéia  de beleza ( 3 )

Frio  ( 1 ) e quente  ( 2 )  =  idéia de temperatura ( 3 )

Rígido  ( 1 ) e flexível ( 2 ) =  idéia de elasticidade  ( 3 )

 

Assim são todas as coisas, o DOIS representa a polarização do UM e o TRÊS a percepção, ou seja, a conscientização objetiva.

           

Todas as coisas quer sejam concretas quer sejam abstratas estão polarizadas:

                       

BAIXO - ALTO

COVARDIA - CORAGEM

ESCURO - CLARO

FEIO - BONITO

FRIO - CALOR

MAL - BEM

ÓDIO - AMOR

RUÍDO - SILÊNCIO

TRISTE - ALEGRE

           

Essa seqüência seria quase interminável, pois nela podem ser referidas todas as coisas existentes.

           

Tudo tem o seu oposto, tudo tem dois pólos e entre um pólo e outro existe uma infinidade de graduações intermediárias.

 

Mesmo que teoricamente possam existir coisas na fase UM, na realidade, isso será uma decorrência da limitação de parâmetros.

 

O que torna a fase UM inconscientizável é a limitação da mente encarnada, é a sua relatividade, assim como as de todas as coisas criadas.

 

No ABSOLUTO tudo é essencialmente TRINO, embora o UM, o DOIS e o TRÊS sejam apenas UM, pois  naquele nível há  conscientização sem polarização manifesta.

 

O ABSOLUTO não pode ter pólo oposto, pois se o tivesse evidentemente deixaria de ser ABSOLUTO. Como uma coisa pode ser absoluta se existir algo fora dela. Como pode haver um infinito se existir um outro? Se existissem dois infinitos na verdade nenhum deles seria infinito exatamente porque um não conteria o outro.

Suponhamos que exista o absoluto e o não absoluto. Este deve estar contido naquele, do contrário o absoluto não seria absoluto. Se algo infinito e absoluto tivesse um pólo oposto haveria dois infinitos e sendo assim nenhum deles seria absoluto.

 

Os opostos só podem existir dentro da descontinuidade, portanto, ao nível da creação, evidentemente. Polaridade requer limites, só as coisas limitadas podem ter pólos opostos.  Onde não existir  limite não pode haver polaridade.

 

Em nível do Absoluto não pode haver polarização, somente no plano Relativo.

 

É impossível o Contínuo ser polarizado porque entre os pólos extremos de algo tem que existir uma infinidade de graus intermediários, e no contínuo não há gradações, pois nele tudo é UNO ( tentem entender isso que estamos afirmando pelo efeito dominó). Num nível indivisível, tudo é UM, não pode haver graduação qualquer, pois para que haja graduações tem que haver unidades distintas, a estrutura tem que ser “granular” e não “maciça” (continuum).

 

Embora o Absoluto não seja polarizado mesmo assim Ele pode se projetar, pode se expandir. Em tal situação deixa de ser Absoluto e passa a ser Relativo[2], conseqüentemente, deixa de ser imanifesto e inconscientizável para ser manifesto e com possibilidade de  conscientização.

 

Quando o Absoluto se expande, um tanto de SI deixa de se apresentar como Continuum para se apresentar como descontinuo e tudo aquilo que se manifestar nessa condição é limitado, descontínuo e polarizável.

 

O Absoluto se manifesta dentro da criação de múltiplas  formas, mas  não como  polarização plena  direta.

 

Pelo que expomos é fácil  compreender que o PODER SUPERIOR não tem oposto algum, não tem polaridade oposta. Uma polaridade do infinito seria outro infinito no extremo oposto. Para ter oposto o Absoluto se torna Relativo.

 

Na realidade o PODER SUPERIOR se manifesta sob miríades de formas, mas não como polarização plena DELE mesmo.

 

A CRIAÇÃO NÃO É UMA POLARIZAÇÃO PLENA DO NADA E SIM UMA MANIFESTAÇÃO PARCIAL DO NADA.

 

No Cosmos somente o Poder Superior não tem oposto, por isso não se pode ter conscientização plena Dele. Para poder de dar conta de algo (ter consciência de algo) é preciso haver polarização; como o Poder Superior não se polariza em plenitude, conseqüentemente, qualquer que seja a forma de consciência[3] ela é relativa, pois não é possível se ter consciência plena. Só é possível se ter uma forma relativa de consciência; um ser, quando muito, apenas pode chegar a ter consciência parcial a respeito do Poder Superior, nos níveis em que Ele se manifesta como criação, quando então deixa de ser Absoluto e se torna Relativo.

 

Quando muito uma pessoa apenas se conscientiza daqueles aspectos em que Ele se polariza parcialmente (Projeta-se). Ele está em tudo e em todos, mas no que não está polarizado Ele é inconscientizável pelas mentes destacadas.

 

No exemplo que demos no início dessa palestra, a temperatura de 20º C estava presente em tudo, em todas as coisas e lugares, mas as pessoas não a detectavam. Somente uma  pessoa  vinda de um lugar onde existissem variações de temperatura, portanto, uma pessoa que conhecesse o que é temperatura é que poderia ter consciência do grau térmico ali presente no ambiente.

 

Assim também é o Poder Superior, Ele está em tudo, em todas as partes, mas naquilo em que Ele não estiver polarizado não se pode ter conscientização plena, apenas pode-se sentir uma face da Sua manifestação. Assim sendo, somente um destaque de consciência procedente de fora da creação, ou seja, do Nível do Poder Superior, ou seja, somente um Espírito Puro, cuja essência é a do próprio Poder Superior, é que pode senti-Lo em sua plenitude no Universo. Para os demais espíritos, somente é dado ter consciência do Poder Superior naqueles aspectos de Sua expansão polarizada.

 

Analisemos agora a possibilidade de se ampliar teoricamente a polarização de alguma coisa. Teoricamente a polarização pode ser ampliada cada vez mais. Enquanto houver descontinuidade ela pode ser ampliada. Somente ao atingir o continuum é que a polarização cessará e, nesse caso,  estará no nível do Infinito. Como não existem dois infinitos, é lógico que a creação sempre está limitada pelo infinito em todos os sentidos. Quando algo não puder mais ser polarizado certamente haverá sido atingido o Absoluto, o Infinito.

 

 

 

 

 

 

Ilustração 1

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ilustração 2

 

Como dissemos antes, entre dois pólos existe um número inconcebível de graduações possíveis. Na realidade esse número é infinito. Escolhamos dois pontos quaisquer situados entre os dois pólos. Sempre poderá ser encontrada uma posição intermediária. Por mais próximos que estejam os pontos entre si, ainda assim, o espaço entre eles pode ser dividido inconcebível número de vezes. Essa condição persiste enquanto houver descontinuidade. Ela somente cessa quando não puder mais haver divisão alguma e neste caso se estará diante do Continuum, portanto diante do Infinito. Vemos que o Infinito permeia tudo, ele está além dos pólos e ocupando todas as posições, portanto, fora do universo e ao mesmo tempo dentro dele.

 

Isso pode ser visto na escala dos números. Entre dois números inteiros, exemplo entre 2 e 3 cabem incomensurável número de frações. Isso tem como limite o próprio Infinito.

 

Na creação existe um número inconcebível de bipolos, cada coisa existente na creação é parte de um bipolo. Podemos ver pela ilustração 1 que um bipolo pode ser ampliado, pode haver distanciamento e aproximação entre os extremos. Em ambos os casos chega-se  ao Infinito. De forma similar, diminuindo-se o distanciamento também se chega ao Infinito.

 

Um princípio muito importante consiste em se poder aumentar ou diminuir a polarização, isto é, ampliar ou reverter polaridades. Isso é o que se pode chamar de sublimação de um sentimento, por exemplo. Num mesmo bipolo podem ocorrer mudanças, no sentido de se deslocar dentro de um mesmo bipolo. Pode-se transformar  ódio em amor; tristeza em alegria,  guerra em paz, treva em luz,  e todas as coisas que pertencerem a um mesmo bipolo, mas jamais é possível  pela  lei da polaridade  haver reversão entre algo de um bipolo em algo de outro bipolo. Pela polarização não é possível se reverter, por exemplo, calor em amor, alegria  em cor, etc. por serem coisas de naturezas diferentes.

 

Em decorrência da não possibilidade de reversão de situações de bipolos diferentes é impossível a ocorrência de  muitas situações. O místico tem que entender a lei da polaridade,  sentir o bipolo para poder orientar  a modificação de uma determinada situação.

 

[1] Em algumas palestras anteriores quando falamos dos números UM, DOIS  E TRÊS,  demos vários exemplos que ampliam bem o entendimento quanto à importância da polaridade na natureza.

[2] - O PODER SUPERIOR  vem se manifestar na criação como FORÇA SUPERIOR.

[3] Nessa palestra entenda-se a palavra consciência, pela expressão:  dar-se conta de.

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