“A Ciência dos Números é o suporte intelectual da magia”.
ABELLIO, Raymond
Propriedade dos Números
1995
A Escola Pitagórica geralmente atribui a cada número uma representação espacial, geralmente uma figura geométrica. Um dos mais famosos pitagóricos, o abade Jean Tritheime, mestre de Paracelso, dizia que “as ciências matemáticas são como parentes da magia, tão indispensáveis a essa que aquele que, sem as dominar, acredita poder exercer as artes mágicas, se encontra em um caminho inteiramente errado, esforça-se em vão e não chegará jamais a qualquer resultado”.
O que disse o Abade Tritheime é que vamos encontrar tanto na magia, quanto em muitos ramos das ciências herméticas, uma grande riqueza de representações numéricas e geométricas.
Os pitagóricos sempre que possível procuravam representar, por números e desenhos geométricos, as leis e os segredos da natureza, associando idéias através dos números e os representando geometricamente. Pode parecer que esse procedimento tinha em vista facilitar a compreensão dos princípios metafísicos. Em parte isso pode ser considerado verdade – a visão espacial de um problema metafísico torna-o bem mais compreensível – mas existe outras razões bem mais importantes que levam os Iniciados a evitar o ensinamento direto.
Como sistema de linguagem velada podem-se usar os números e as formas geométricas com vantagens, pois elas não requerem chaves de interpretação alguma, é apenas preciso se ter alguns conhecimentos básicos, saber raciocinar, e tudo se torna claro através dos números. Vale salientar que há uma lei pouco conhecida que leva a mente a penetrar nos mistérios inerentes aos números. Conhecendo-se alguns elementos básicos de um sistema numérico, ou geométrico, ao se pensar nas relações dos números logo o conhecimento se auto-revela. Quando no esoterismo se usa uma forma de expressão por palavras há necessidade de códigos de decifração e sendo assim está sujeita interpretação equivocada. Por outro lado os números e as figuras geométricas falam por si, são o que são sem necessidade de chaves de interpretação.
Por esse motivo, entre outros sistemas, os cabalistas e especialmente os pitagóricos baseados em conhecimentos milenares, optam pelo sistema metafísico numérico. Disso resultou a numerologia tal como é hoje conhecida. Pensa-se que a numerologia é um sistema esotérico, quando na verdade ele não é um sistema em si, mas sim um método utilizado por algumas escolas iniciáticas, em especial a Cabalística e a Pitagórica, para o entendimento dos princípios que respondem pela natureza do mundo imanente.
Muitas Escolas Iniciáticas preferem transmitir o conhecimento através de números e símbolos como parte da linguagem velada peculiar aos místicos de todos os tempos.
Houve época em que a totalidade dos conhecimentos, mesmo aqueles que hoje são ensinados nos colégios e universidades, eram proibidos e as pessoas que os estudavam eram até mesmo sacrificadas. Por isso era imperioso, em decorrência das perseguições movidas, especialmente por algumas doutrinas religiosas, que as ciências não oficiais, e até mesmo a própria história, fossem mantidas fora do alcance das pessoas comuns.
Num passado um pouco mais remoto as Escolas Iniciáticas eram órgãos oficiais e assim o ensinamento podia ser feito através delas de forma direta, sem necessidade de linguagem figurativa alguma. Mas depois que o obscurantismo dominou os sistemas governamentais do mundo até as próprias Escolas Iniciáticas passaram a existir na clandestinidade, e os seus ensinamentos deixaram de ser transmitidos em linguagem clara, passando então a sê-lo em linguagem velada.
Houve época em que havia uma restrição draconiana a todos os ensinamentos não oficiais extensivo a todo o mundo, haja vista a inquisição. Mais recentemente esse controle foi rompido em muitos lugares onde há uma liberdade relativa de culto e de pensar, mas queremos salientar que ainda não é assim em todo o mundo. A perseguição ao saber ainda ocorre em muitos países do mundo controlados por fanáticos e sectários que vêem perigo no conhecido de certos princípios. Em algumas culturas esse controle é feito em nome de Deus, apenas vale indagar qual o aspecto de manifestação dele.
Já temos mostrado uma série de representações geométricas ligadas à natureza e as leis do universo e, portanto torna-se mais fácil aceitar que os números não são apenas elementos usados com a única finalidade de contar coisas. Na realidade eles trazem conhecimentos inerentes, contêm em si desde a origem das coisas até as leis mais simples com que lidamos no dia a dia. Por detrás do contar existe o revelar no sistema de numeração. Baseado nisto é que o sistema pitagórica tornou-se uma escola de ensinamentos esotérico de grande respeito no mundo, especialmente entre os iniciados em geral.
Nesta palestra iniciaremos a falar sobre algo bem conhecido de muitas pessoas, mas, por outro lado, pouco compreendido por elas, pelos não iniciados. Trataremos de trazer algum esclarecimento sobre a propriedade dos números para que tenhamos uma idéia melhor de algo muito usado em magia e ocultismo e pelos numerologistas que são os chamados Quadrados Mágicos, que estudaremos com mais detalhes num tema futuro.
Sabemos que a mente é muito simbólica e que por isso a comunicação entre o mundo físico e o hiperfísico se processa através de símbolos. Os quadrados mágicos são estrutura constituída de números ou de letras. Assim a relação entre os números constitutivos de um quadrado mágico tem um poder inerente aos números que o constituem. Funciona de forma semelhante a “Árvore da Vida”.
Dissemos em palestra bem anterior que um dos perigos do Tarô é ele por se tratar de uma representação dos sephirot e estes ocuparem simbolicamente o lugar de todas as coisas que existem, sejam elas más ou boas. Ao se manipular cartas de jogar se fazem associações aleatórias que pode orientar a mente tanto no negativo quanto no sentido positivo. Há perigo porque direciona a mente em sentidos muitas vezes completivos o que torna possível a ocorrência de uma espécie de “curto circuito” a nível mental como conseqüência da tentativa de estabelecimento de correlações aleatoriamente propostas, mas essencialmente incompatíveis.
Vamos fazer uma analogia bem simples para que se possa sentir a problemática das combinações aleatórias na “Arvore da Vida”. Suponhamos que um valor fosse representativo da água e um outro de incineração. Numa combinação aleatoriamente saíssem dois valores cada um indicando uma coisa incompatível com a indicação do outro. Por exemplo, um indicando à mente que ele deveria incinerar algo e o outro indicando a água. A associação seria: incinerar água. Como isso não é possível, a mente “congelaria” como faz uma tela de computador diante de situações completivas. Assim também acontece com a mente cerebral, diante de situações conflitavas e incompatíveis ela entra em pane. Por isso é que o tarô é perigoso, pois ele indica direcionamentos e associações inviáveis à mente.
A mente ao nível subconsciente age segundo aquilo que lhe é ditado de alguma forma. Assim sendo as representações simbólicas têm o poder inerente àquilo que através dele é ordenado à mente
fazer. Sendo assim três tipos de comandos podem se fazer presentes entre as quais, associações inviáveis que provocam situações conflitivas, e as viáveis, aquelas que são favoráveis, factíveis de realização, mas que podem ser negativas ou positivas.
Os quadrados mágicos agem como linguagem simbólica direcionando a mente. Os números têm grande significação conforme temos estudado, eles representam condições tais como se fossem sephirot da “Árvore da Vida” cujos “caminhos” são vias associativas entre os diversos valores expressos em cada um deles. Os sephirot representam os valores, a coisa em si, enquanto a via representa a ligação entre os diferentes valores, é, portanto uma via de associação. Os conflitos ocorrem todas as vezes que é tentada alguma associação impossível.
Situações negativas estão sujeitas a ocorrerem de conformidade com aquilo que é associado. É como na química, da combinação de duas substâncias inócuas pode resultar um produto perigoso. Claro que as combinações químicas aleatórias em grande parte são inviáveis e sendo assim coisa alguma resulta delas. Somente quando uma combinação é viável é que pode resultar algo perigoso ou não perigoso. Em se tratando do mundo da química uma associação impossível não acarreta transtorno algum. O mesmo não acontecendo no que diz respeito ao mental; uma associação impossível é altamente completiva e por isso é capaz de gerar conflitos susceptíveis de prejudicar seriamente o comportamento mental da pessoa.
Todos os mistérios do universo estão contidos nos números assim também todas as leis e princípios. Grande parte desse conhecimento já existe registrado ao nível de subconsciente, algo adquirido em outras encarnações. Assim não é preciso que a pessoa saiba o significado dos números para que um poder seja desencadeado, ele se manifesta naturalmente desde que haja um estímulo preciso. [1] Quando o discípulo aprende os “mistérios dos números” a capacidade de usá-los se torna algo automático. Quando estudamos os biorritmos dissemos que é importante que a pessoa aprenda os ritmos, quais são eles e como operam. Na prática não é preciso ficar fazendo cálculos e mais cálculos, pois desde que a mente haja registrado o “modus faciendi”, ela promove todos os cálculos e fornece uma resultante comum de todos os ritmos envolvidos. Então esse resultado surge na mente da pessoa como um afloramento, como uma intuição, no momento exato, mostrando o melhor momento para que algo seja feito. O mesmo acontece com referência aos poderes ocultos dos números.
[1] - Um dom na realidade é o afloramento de uma qualidade em que a pessoa já aprendeu antes e se manifesta numa encarnação futura. Assim é que as pessoas têm mais facilidade para aprenderem uma determinada língua, querendo isso dizer que antes aquela língua já lhe foi mais familiar que as outras.